Habitar a linguagem

Depoimento do poeta André Carneiro a Osvaldo Duarte

O texto a seguir é o resultado de alguns encontros que tivemos com André Carneiro. Não poderia chamá-lo de entrevista, pois, além de opiniões do autor, trata-se de impressões que fomos registrando e as quais damos agora uma sistematização. Nosso primeiro encontro deu-se em casa do autor, numa manhã de 1993. Queríamos conhecê-lo, saber um pouco de sua obra, e para isso imaginávamos necessário apenas uma entrevista. Os encontros, contudo, se repetiram e a cada visita, como numa mágica, aumentavam as coisas a serem ditas. Assim, voltava para ouvir André Carneiro e ali ficava por horas a fio, enquanto o poeta, sempre ao lado da janela, descrevia astros do céu, desfiava poemas, viagens e narrativas que traçavam vertical e violentamente os últimos cinqüenta anos da vida nacional. As horas passavam céleres e dessas narrativas saltavam perssonagens alucinadas pelo silêncio a que estavam presas, todas muito carentes de serem lembradas. Assim, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Sérgio Milliet, Cassiano Ricardo e tantos outros com os quais André Carneiro convivera, iam compondo, um a um, a História da Literatura Brasileira moderna. As palavras têm poder mágico e assustador. E esse poder revela-se no exato momento em que delas participamos. Foi assim que as conversas se deram e não menos assim que tentaremos seguir os caminhos percorridos sem nos afastar do timoneiro, cujas impressões digitais ou marcas deixadas no caminho, procuramos registrar. O que se segue, embora seja o objeto de nossa escrita, são essas marcas, a voz e o pensamento de André Carneiro, único ator em cena. Fala-nos sobre a Geração de 45, sobre o ofício de escritor, mas principalmente sobre o seu processo de criação: o que é a sua poesia e o seu estilo. Com o poeta, a palavra:

A literatura e o Brasil

Desde menino ouvia o meu pai dizer que “este país está a beira do abismo!” Não sei se ele tinha razão e até onde o Brasil está na beira ou no fundo. Felizmente nunca fui patriota, mas confesso que fico chateado com a situação cultural do país. No ensino quase tudo está errado ou ineficiente, a escola deveria ensinar a amar as artes e não é tão difícil assim. Porém os professores não a conhecem porque ninguém ensinou. A crítica literária não existe, ou melhor, desapareceu. Não há espaço para ela nos grandes jornais, quando há, limitam-se a pequenas resenhas de livro, muitas vezes mera cópia do que está na orelha. Como conhecer, então, os novos trabalhos? A maior parte da produção artística, em qualquer país, é de sofrível qualidade, mas o que é bom tem repercussão e propaganda, até por um legítimo patriotismo. Aqui isso não ocorre. Os jornais e revistas desprezam ou ignoram a nossa produção, destacando a estrangeira, e esse descaso com a nossa arte deve refletir na produção geral, evidentemente. Veja a cidade de Buenos Aires, tem mais livrarias que o Brasil inteiro. Os chamados “patriotas” suportam esse quadro. O patriotismo ingênuo e exacerbado que separa as nações é condenável, embora constitue um dado cultural universal. O ideal inatingível seria não existir fronteiras, mas, ao que parece, só os poetas pensam assim (e talvez nem todos)…

Antigamente e Hoje

O André Carneiro de hoje é bem diferente daquele de antigamente. Passei por várias transformações. Acho que posso fazer um paralelo da minha evolução com a evolução da humanidade, pois também passei pela “Idade média”, onde supunha ser imortal, ter uma grande importância, ser onipotente. Creio que isso é comum à juventude. É curioso notar que, com a humanidade, aconteceu o mesmo. Na Idade Média o homem acreditava ser importantíssimo, e que o planeta onde morava era o centro do universo. Só pretensão! A descoberta do oposto trouxe ao homem um sentimento de pequenez, de insignificância. O conhecimento do mundo começou a se estruturar de maneira diferente daquilo que se julgava verdadeiro. Com essa passagem pela idade média, descobri a morte, reorganizei minha concepção de mundo. Hoje meu conhecimento da morte não traz aquela conotação trágica. Por ser inevitável, ela merece até mesmo ser tratada com humor. Assim como a morte, a insignificância do homem está presente em minha obra. Foi inevitável sentir a importância da Idade Média para a evolução da humanidade, como foram importantes para minha evolução os estágios anteriores.

A Gereção de 45

É trabalhoso concatenar idéias a respeito da geração 45, que reunia poetas de tendências bem variadas. Não havia entre nós uma técnica de composição definida a ser trabalhada ou obedecida convictamente, como aconteceu depois com o concretismo. Quando a geração 45 foi batizada, nós não estávamos preocupados em combater outras gerações, afinal os acadêmicos de antes de 22 já tinham pouca importância e estavam ultrapassados. Os melhores de 20 e de 30 admirávamos. Portanto, a Geração de 45 só pode ser vista como uma evolução das anteriores. Mesmo assim, a geração de 45 se assemelha, na minha vida, ao fato de ter estudado no colégio Arquidiocesano, em São Paulo, onde meu pai me colocou interno quando tinha 11 anos. Nesse colégio estudei, formei opiniões, mas fui colocado lá, não escolhi, não optei. Quando me disseram que eu fazia parte de 45, achei natural, eu era amigo de Domingos Carvalho da Silva e de outros considerados dessa geração. Quando começaram a aparecer artigos, conversas ou ensaios definindo ou colocando as características desse movimento, eu lia sem tomar partido, exatamente como no colégio, fui colocado, o que ocorre com todos. E, assim como um colégio não traça caminhos definitivos, 45 não influenciou, não determinou minha criação artística. Quando crio, preocupo-me em fazer poesia de qualidade que satisfaça a minha emoção e a dos outros. A obra de arte vale pela qualidade, em qualquer época e com qualquer título. Sempre prezei a liberdade, mas com coerência e sobriedade. Se isso for ser da Geração de 45, não tenho do que reclamar. Minha poesia fala o que sou.

O Clube de Poesia de São Paulo

Foi sugerida a criação do Clube de Poesia de São Paulo em 1949, no I Congresso Brasileiro de Poesia, primeiro evento intelectual do qual participei. Quando foi aprovada a criação do Clube, eu, embora inexperiente, era bastante realista e achei uma bobagem. Um clube de poesia me parecia algo ridículo. Mas eu estava enganado, o Clube foi muito importante na época. Seu primeiro presidente foi o grande poeta Cassiano Ricardo. Sendo chefe do gabinete do governador, ele conseguia verbas para a publicação dos livros de poesia, lançando toda uma geração, com grande repercussão em todo o país. A atuação de Cassiano Ricardo foi importante. Entretanto, tem-se que destacar o líder e incentivador que foi Domingos Carvalho da Silva. Até hoje o Clube existe, mas já sem o antigo prestígio. Fui presidente há alguns anos, sem poder realizar nada, pois o Clube é uma espécie de academia com número limitado de participantes, que não pagam mensalidades. Dentro da realidade brasileira atual, a Poesia fica limitada a uma elite. Dentro do Clube houve muitas brigas, demissões e polêmicas noticiadas pelos jornais, o que seria inacreditável hoje, pois os jornais transformaram-se em indústria, a preocupação geral é o lucro e cultura não entra em cogitação. Como o mundo cultural brasileiro é insignificante, em vez de contribuir para aumentá-lo, o que seria magnífico, os jornais simplesmente ignoram e só noticiam aquilo pelo que recebem cobertura financeira, normalmente de produtores do exterior. Num clima desses, como manter um clube de poesia?

A poesia

Após a publicação do meu primeiro livro Ângulo e Face, fazer poesia se tornou uma tarefa de grande responsabilidade devido ao acolhimento extraordinário que teve o livro. Sérgio Milliet escreveu um rodapé no O Estado de São Paulo afirmando que eu era um poeta de São Paulo e seria logo um poeta do Brasil. Fazer um poema deixou de ser um ato natural, espontâneo . Por isso fiquei muitos anos sem publicar poesia. De repente, percebi que ninguém mais se importava com a poesia de André Carneiro, minhas responsabilidades eram fruto da minha cabeça ou da minha vaidade. Recomecei menos preocupado: a poesia é um espelho onde me agito à pocura do “segredo do mundo”, tento através desse espelho enxergar-me por dentro, penetrar na minha vivência e na dos outros. Em minha poesia, digo sempre a verdade, a minha verdade ou aquela que julgo ser. As dúvidas são expressas como dúvidas. Não invento sentimentos, não me coloco na pele alheia, não finjo. Luto para ser sintético e preciso. Almejando a essência, desprezo qualquer coisa que me distraia, que leve ao gratuito, mesmo que seja interessante ou bonito. Coloco minhas imagens sempre em relação com o que eu quero expressar. Trato de temas objetivos, problemas da vida. Tento ultrapassar a barreira fechada do inconsciente, ou pelo menos recriá-lo na tentativa de me aproximar do mistério. Não sou um poeta inspirado nem tenho uma técnica prévia e precisa de construção. Fico em estado de concentração, em estado de espera e procura, o tema surge e eu escrevo. Depois corrijo, corto tudo que seja redundante, dispensável ou excessivo. Elimino os adjetivos, mudo versos de posição, substituo sempre palavras por sinônimos mais curtos. Fico satisfeito quando percebo que consegui algo que saiu do âmago, do centro da minha vida. Todos os recursos usados pelo poema são iscas para captar o inconsciente. Mergulha-se no lago das palavras para descobrir aquelas, donas da revelação. O poeta lida com a surpresa, o arbitrário, o paradoxal. Ele é uma espécie de cientista louco. Mistura tudo, e quando explode, é uma maravilha. Não identifico influências muito intensivas em minha poesia, mas o surrealismo sempre me agradou, por ser filho direto de Freud, do inconsciente, do mistério. De modo mais estrito creio que os modernistas devem ter me influenciado mais do que qualquer outra corrente, como alguns escritores que li, como Proust, Rilke, Drummond, Baudelaire, Bandeira, Kafka, etc., mas as influências foram em nível inconsciente e eu não consigo demarcá-las com precisão. Minha poesia é fragmentada, mas isso não é consequência de uma ideológia literária. É o resultado ou a reação produzida pelo mundo fragmentado em que vivemos. Diante de um noticiário internacional da TV, recebemos diariamente “fragmentos” do planeta. E a poesia é isso, nossa vida nesse planeta. É também uma religião para mim, contudo, sem dogmas ou obrigações. Se vou desaparecer definitivamente, tento criar, talvez desesperado consolo inconsciente de quem quer permanecer de alguma maneira…

A poesia e outras artes

Quando Ângulo e Face foi publicado, formou-se uma comissão – o que era comum se um livro tinha certo destaque – para uma homenagem que foi muito importante para mim, na época. Dela fazia parte Oswald de Andrade, Sérgio Milliet, Domingos Carvalho da Silva, Jamil Haddad, Helena Silveira, Cassiano Ricardo, Geraldo Pinto Rodrigues, Antonio Candido etc, etc. Houve discursos, José Geraldo Vieira comentou que minha prosa também era importante, Carlos Burlamaqui Kopke, com sua conhecida erudição, também falou. Esse interesse por minha poesia, principalmente os elogios do Sérgio Milliet, me assustam muito e criam um grande senso de responsabilidade. A partir daí são dez anos sem publicar poesia. Dez anos a espera de textos que fossem inquestionáveis para mim mesmo. Dez anos de busca para não frustrar minhas próprias expectativas. Foi assim que aprendi a mais importante lição: só criar se satisfizer a minha emoção, independente de correntes ou estéticas, ou mesmo, independente da modalidade de arte. Faço com a mesma emoção e interesse, conto, romance, pintura, fotografia e cinema, mas a poesia é a parte mais importante da minha criação artística. Posso fazer essa afirmação porque tenho experiência em outras artes e apesar de fazê-las com muita paixão, não consegui dar-lhes exclusiva continuidade. A poesia é minha realização maior. É nela que deposito a minha vivência. Em poesia eu fiz o máximo, fiz tudo que pude. A poesia aflorou em mim como uma árvore maior do que as outras artes, sem dúvida, a ponto de fazer da poesia a minha própria vida.

A poesia no reino das palavras

O romance, o cinema, a pintura são discursos que contam histórias. Existem, contudo, os que não têm enredo, não buscam a narratividade e constituem a pequena parte boa da arte moderna. É característica da boa poesia contemporânea evitar a narratividade, sempre um tanto quanto didática, mais própria para a crônica ou o conto. Na poesia, isso altera todo processo de criação, pois quando se parte de um enredo é como se houvesse um mapa, que pode ser apagado, se duvidoso ou frágil. Na poesia, se quisermos traduzir um sentimento específico e diferente de tudo que ja foi dito, descrições e adjetivos não resolvem. É preciso adivinhar a chave do reino das palavras, tentar abrir a porta do mistério da vida e viver na arte. Isso talvez seja a poesia.

Reiterações…

Sempre notei que repito alguns termos e até versos em meus poemas, cheguei algumas vezes, a substituí-los. Com o passar do tempo percebi que essa obsessão era a maneira do meu inconsciente revelar um mito. Faço muitas comparações com formigas. A linguagem desses insetos, sua organização me interessam, como interessam também os vermes e micróbios, que aparecem em meus poemas com freqüência. Afinal somos descendentes de peixes e criaturas que há milhões de anos eram insignificantes. Cores também são freqüentes. O vermelho aparece muitas vezes, é uma questão de gosto pessoal. Essa cor me agrada esteticamente e se os psicólogos afirmam que o vermelho agrada pessoas que querem se destacar, procuro apenas aceitar traços vaidosos, embora não me preocupe com eles. O vermelho não tem em minha poesia, portanto, nenhuma conotação política, não simboliza a “foice e o martelo”. Aliás, toda relação ditatorial me assusta. Creio que a liberdade seja o que de mais valioso uma pessoa pode ter e deve ser defendida até para os inimigos. Além dessas, também a palavra sangue uso repetir muito. O mesmo acontece com palavra mão, seja como um todo, ou desmembrada em dedo, impressão digital, unha, palavras sempre carregadas com o significado de carícia ou prazer. A mão é o primeiro elemento de comunicação de um casal, ela representa o toque, o início verdadeiro de tudo, o momento, enfim, em que o amante pode imprimir sua digital na pele amada. O desmembramento da mão também significa: tem uma conotação da busca de um complemento para o amor, a união das partes para formar um todo. É constante ainda a presença da morte. Ela aparece como mulher vestida de negro, de saia preta. Às vezes a trato com humor, fujo dela lendo histórias em quadrinhos, jogo cartas com ela, etc. Chego a propor fazer amor com a insinuante mulher de preto. Entendo que o convívio com a morte, a presença dela, tem me ajudado nas quotidianas contingências. Embora o medo, ela me dá a consciência da precariedade humana, me leva a viver melhor o momento presente, faço dela “uma conselheira”, como disse Castañeda… É através dessas reiterações obsessivas que busco entender o mistério da vida, de onde vim, porque vim e para onde vou. Não há respostas para essas perguntas, mas é inevitável enfrentá-las.

Ficção cientifica

A ciência me interessa e eu a estudo, não metódica ou profundamente, mas de maneira contínua, afinal o conhecimento da ciência é indispensável para o entendimento da vida contemporânea. Tenho poemas influenciados pelas realidades das novas teorias da formação do universo, pelos conceitos de estranheza (de Heisenberg) da física quântica etc. Também tenho alguns poucos poemas de ficção científica, isto é, recriando ou inventando um cenário futuro. Já imaginei em minha obra, por exemplo, o futuro de algumas artes de maneira promissora. A poesia poderá ser cifrada em notas como a música, poderá ter odores, cores e imagens em terceira dimensão, ou ainda ser transmitida por um pequeno aparelho que se liga na testa e produz ondas alfa, interferindo nos neurônios e sinapses, provocando um verdadeiro orgasmo. E não é preciso citar a realidade virtual já existente. Acho o título “ficção cientifica” um nome infeliz, inadequado para definir um gênero literário influenciado pelo desenvolvimento tecnológico que tem mudado rapidamente o cenário de nossa vivência atual. Preferiria, como Aldous Huxley, Orwell, ou a excelente romancista Rachel Ingells, não colocar o desacreditado rótulo “ficção científica” em qualquer trabalho meu. Digo desacreditado porque a crítica não vê com bons olhos a produção de ficção científica. Isso ocorre por causa da desatualização e o desconhecimento da ciência, afinal, aceitar a ciência implica em alterar muitos conceitos que já foram cristalizados e isso não é cômodo para a crítica. Essa tendência de a crítica permanecer estacionada provoca uma grande defasagem entre ela e a ficção cientifica, pois a arte não é estacionária, o artista a modifica continuamente. Em minha poesia aparecem informações científicas e elementos de ficção científica com um tratamento surrealista. Isso me agrada porque associa o real com o imaginário, o abstrato com o concreto. Mencionando ou não fatos científicos eu não penso no leitor, quando crio, mas inconscientemente, devo estar me dirigindo a um leitor, querendo que me compreenda. A compreensão, se houver, passa por outros canais, extrapola os hermetismos e os meandros gramaticais ou semânticos.

Os ruídos do eu

A arte é vida e minha vida é minha arte. Fatos que vivi são transportados para o verso, mas essa marcas aparecem quase que à minha revelia, como as várias referências à participação política durante a dítadura militar. Elementos sombreados pelo auto bibliográfico, creio serem quase inevitáveis, mesmo na prosa onde criamos personagens que são nossas “antíteses” e com isso conseguimos disfarçar. Na poesia, isso nem sempre é possível, pois tudo o que há acaba refletindo um certo retrato, embora nem sempre nos reconheçamos nele nitidamente. Esse retrato desfocado é um pouco o nosso estilo. A perda da fé acredito que tenha sido inconscientemente transportada para os versos. Isso contribuiu para que eu conseguisse divagar mais livremente sobre o mistério da vida, sem o auxílio da explicação perfeita de um deus humanizado criador de tudo, não consigo saber qual o limite da realidade e da ficção. Mas em certos momentos, talvez consiga entrar no mistério do inconsciente. É como se abrisse com uma faca o meu interior e de lá saísse uma pomba branca, mas manchada de sangue.

O estilo

Estilo em literatura é quase indefinível, pois apenas as trilhas podem ser identificadas. Podem-se notar características, mostrar se o autor usa frases curtas ou longas, se é hermético ou transparente, agudo ou conciliante, etc. Mas, isso apenas conduz ao estilo, não garante a compreensão de um estilo. Estilo é como a beleza feminina, não são as formas perfeitas que a determinam, e sim o halo cativante e harmonioso. Estilo é algo invisível mas muito forte como uma força magnética que não se pode medir com precisão. Pode-se imitar o “jeito” de um escritor, mas atingir ou reproduzir um estilo é impossível, só se consegue uma caricatura. Em artes plásticas é mais fácil imitar um estilo. Imagens podem ser copiadas com menos dificuldade do que um tom literário, que usa os signos em milhares de combinações possíveis e imprevistas. Estilo é perfume, não se traduz em letras, por isso apenas as trilhas são identificadas.

O metapoema

Enquanto faço poemas, gosto de refletir a atividade literária, gosto de abordá-la como assunto. Falar do ofício me agrada muito e por isso tenho inúmeros poemas assim. O metapoema é importantíssimo, afinal penetra na essência da essência, é um “strip tease” do fundo e da forma, um desvestir que acaba exprimindo muito bem intenções e técnicas atrás do palco. Poesia é armadilha. Por ser tão pessoal e uma forma de exprimir (ou tentar descobrir) o que somos, o “eu poético” fica sendo, quase sempre, um conivente, um cúmplice e o autor distraído confunde o personagem com o poeta. Ficamos assim no metapoema: mosaico camaleão.

 

Entrevista com André Carneiro

entrevista

 

 

André Carneiro: A literatura das sete artes

Entrevista concedida a Nélson de Souza e Gilberto Sant´Anna em dezembro de 2011

André Carneiro é atibaiano, como prefere, ao invés de atibaiense. Pertenceu ao movimento literário denominado Geração de 1945. Navegou por todas as artes, antecipando em quase meio século a ideia de polivalência. Leu mais de 4.000 livros, inclusive em francês e inglês. É autor reconhecido no exterior. Dedicou uma boa parte de sua vida à ficção científica. As personagens criadas por André Carneiro usavam celulares com naturalidade, quando a humanidade mal conhecia a televisão.

 

NG – Existem diferenças entre o André Carneiro integrante da geração de literatos de 1.945 e o André Carneiro de hoje?

ANDRÉ CARNEIRO- Todo autor costuma declarar que mudou. Se isso aconteceu comigo não percebi. Entendo que do ponto de vista cultural não sofri transformações significativas. Entretanto, do ponto de vista da vivência literária, é claro, não posso negar que as questões políticas e as agruras da 2ª Grande Guerra e o movimento militar de 1.964, época em que fui perseguido, obrigatoriamente, trouxe dificuldades pessoais e editoriais. É claro que depois de ler 4.000 livros ninguém consegue não passar incólume.

NG- O André Carneiro cineasta, pintor, fotógrafo, contista, poeta, enfim das sete artes. Qual a atividade que você melhor desempenhou e com a qual mais se identificou?

ANDRÉ CARNEIRO- Na verdade, todos os trabalhos que realizei simultaneamente, fiz a passagem de um para o outro naturalmente. Quando dirigia um filme, só pensava naquilo. Quando escrevia um poema, só pensava nisso. Não perdia o foco. Sempre gostei muito de escrever poesias e o fiz com qualidade, porém, tive maior sucesso como contista, no campo da ficção científica e da prosa. Fui reconhecido no estrangeiro com sucesso de crítica. A.E Van Vogt comparou-me a Franz Kafka e Albert Camus. Elizabeth Ginnway, conhecida por Libby, comparou-me nada mais, nada menos a Ray Bradburey. A crítica brasileira não torce pelos autores brasileiros. Não é o caso, por exemplo, da Argentina. Os autores nacionais são festejados. Talvez porque a média de livros lidos pelos argentinos é infinitamente maior que dos brasileiros.

NG- Os teóricos da literatura, da poesia, do teatro ditam regras técnicas para a composição de cada gênero literário, incluídas a poesia e o teatro. O escritor deve observá-las rigorosamente?

ANDRÉ CARNEIRO- A observância das formalidades na construção literária não é tão importante assim. Máxime no Brasil onde pouco se lê. É bom ler os autores mais importantes, mas isso não é próprio para o Brasil. O jovem precisa, pode e deve ler qualquer coisa. O importante é que leia. Leia mesmo. Almanaques e gibis. Ler aquilo que realmente gosta. Aos poucos vão selecionando melhor. Eu tenho consciência que meu texto não é de fácil leitura. O meu livro “Confissões do Inexplicável” (quem sabe livro que reúna a maior quantidade de contos no Brasil) é muito difícil. O jeito certo de escrever não funciona no Brasil. Deve-se fazer aquilo que dá pra fazer.

NG – O que você pensa sobre os microcontos?

ANDRÉ CARNEIRO- Não tem futuro. Se permanecer na literatura será apenas como referência de uma curiosidade. A palavra não tem a velocidade da imagem. Exemplo: o cinema ou a foto pode, de imediato, expressar uma mãe com o filho nos braços. Basta mostrar uma mulher carregando uma criança. O conto precisa explicar a ideia. Deve ter o espaço compatível ao que o texto, claramente, pretenda transmitir. A limitação do tamanho prejudica a criação do conto e, em nada, valoriza o gênero.

NG – A linguagem do Twitter pode influenciar a manifestação literária?

ANDRÉ CARNEIRO- Muito pouco. A reprodução do pensamento se transforma numa linguagem. Impossível reduzir uma grande obra a poucas palavras. Corre-se o risco de se mutilar a literatura. A palavra chave é essa: continuidade. Qual a diferença entre um clipe e um filme? O filme contém emoções. Numa das minhas incursões pelo cinema, o casal do meu filme revela que vive mal, através das reações de um diante do outro. No clipe isso não é possível. É verdade que os autores se deparam com a contingência artificial dos preços por centímetro quadrado, cada vez maior, das publicações. Mas, é difícil fazer um bom trabalho literário em poucas palavras. Isso impõe limitações ao autor. O conflito e as emoções são essenciais no ser humano. Não é possível a existência de um circo de acrobatas, sem braços ou pernas. Quem quiser fazer carreira em literatura no twitter perde tempo. Tudo que é ruim com o tempo vira anedota.

NG – O que acha do poeta Manoel de Barros?

ANDRÉ CARNEIRO– Bom poeta. Silvestre.

NG – Qual tem sido a contribuição da crítica literária brasileira na contemporaneidade?

ANDRÉ CARNEIRO – A crítica deveria ser muito importante na evolução e aperfeiçoamento da literatura. Porém, pelo menos no Brasil, encontra-se em decadência desde a segunda metade do século XX. Razões? A pesquisa é rara e o ensino de literatura deficitário. No passado havia bons críticos, como Tristão de Ataíde, Sérgio Milliet e Agripino Greco, com qualidade e entendimento filosófico. Já não há ninguém com o mesmo nível. Em consequência a literatura perde a orientação em relação aos estudantes e amantes da mesma. Perde-se em eficiência na escolha dos autores. Hoje a crítica improvisa, não se arrisca, não tem coragem em razão da decadência. Não há nenhum grande jornal que transforme a opinião do crítico em opinião do próprio jornal. Escrevi uma crítica sobre a poeta Lupe Cotrin Garaude. Analisei suas poesias. Passados 30 anos reli esse meu trabalho e gostei muito. A época era outra. Exigia qualidade aos críticos.

NG – Qual a personagem melhor construída no romance brasileiro?

ANDRÉ CARNEIRO – É muito difícil de responder. Não há como fazer destaques. É como escolher o melhor jogador brasileiro. Há tantos, em épocas diferentes, todos incomparáveis. A resposta à pergunta em si exigiria, no mínimo, uma pesquisa bem elaborada. Porquanto, não quero e não posso destacar nenhuma personagem. Entretanto, as personagens Macunaíma (Mário de Andrade) e A cachorra Baleia (Graciliano Ramos), me agradam. No conto “Mapa da Estrada“, que faz parte do livro “Confissões do Inexplicável” , criei uma personagem muito interessante. A Clectcz tinha duas línguas e, quando cantava conseguia fazer duas vozes, com uma tonalidade especialíssima.

NG – Um conselho aos jovens escritores?

ANDRÉ CARNEIRO- A base da literatura é a cultura que se adquire lendo. Leia muito, de preferência o que há de melhor. Deve participar de concursos literários, meter a cara. Não existe o jeito errado de escrever.

 

Participação de André Carneiro no Programa “Jogo de Ideias”

Participação de André Carneiro no Programa “Jogo de Ideias” Os escritores de ficção científica André Carneiro e Roberto de Souza Causo, que também é estudioso do tema, conversam sobre a ficção científica, o horror e a fantasia na literatura brasileira. Carneiro e Causo comentam o que os faz escrever ficção-científica e o que levou outros escritores brasileiros, como Monteiro Lobato e Érico Veríssimo, a seguirem a temática. Eles ainda respondem a perguntas da plateia sobre a aceitação da ficção-científica no Brasil, e Causo cita o escritor brasileiro André Vianco, como exemplo de que o horror está mais aberto a integrações culturais do que a fantasia. A entrevista ainda conta com a participação do jornalista e escritor de ficção científica Guilherme Kujawski. Entrevista concedida ao jornalista Claudiney Ferreira, para o programa Jogo de Ideias, gravado em maio de 2004, no Itaú Cultural, em São Paulo/SP.

 

Relato de um filho não tão pródigo

Por Mauricio Soares Carneiro

Falar sobre o André Carneiro é fácil, escrever sobre ele já requer certo cuidado, ainda mais quando quem escreve é seu filho e teve uma convivência de muitos anos.

Não quero aqui fazer um memorial histórico, mas sim um desabafo afetivo. Tentar passar uma impressão pessoal, ainda que emotiva sóbria e real deste homem, André Carneiro que não por coincidência era meu pai.

Gostaria primeiramente de dividir minha relação com ele em três fases distintas.

Primeiro a infância passada em Atibaia onde morávamos na Rua Benedito Almeida Bueno, 43 se não me falha a memória. A nossa casa feita por ele antes de seu casamento em 1959 não existe mais, o desenvolvimento do comercio tomou conta desta rua e lamentavelmente aquela maravilhosa construção foi derrubada. Mas o projeto foi todo dele com uma divisão bem arrojada em termos de arquitetura. Tinha um muro de pedras na frente com uma porta vermelha e uma janelinha no outro canto também vermelha. Toda a casa era revestida de granito tirado de restos das pedreiras, eram pedras irregulares e de tamanhos diversos. A sala dava para os fundos com um jardim cuidadosamente montado com muitas espécies decorativas e arvores grandes. Ali, junto com a loja de materiais de ferragens “Casa Recaredo” na esquina onde moravam minha tia Odila (irmã) e minha vó Engracia (mãe), passei uma excelente fase de minha vida com todas as peculiaridades bucólicas e românticas de uma cidade do interior. Junto com meu pai, minha mãe e meu irmão, as lembranças são as melhores possíveis, pois Atibaia nos anos sessenta mantinha qualidades hoje já não facilmente encontradas.

Depois fomos para São Paulo nos anos setenta morar num apartamento de dois quartos na Vila Hamburgueza e foi um grande choque. Meu pai trocara a vida de comerciante por chefe de propaganda de uma grande empresa de alimentos. Cidade nova, escola nova, ambiente novo e o mito da grande São Paulo com toda a exuberância de uma megalópole. Apesar do susto, hoje vejo que foi perfeito, pois minha adolescência não poderia ter sido melhor já tendo como desafio a compreensão de uma trajetória para vida adulta com as opções infinitas para minha futura carreira de músico.

Posteriormente já com 25 anos fiz concurso em Curitiba e vim me estabilizar como profissional, músico de orquestra e professor de clarineta numa cidade tão prometida, hoje já entregue as vicissitudes do desenvolvimento descontrolado e com índices já assustadores pareando com as demais capitais brasileiras.

Porque uma introdução falando mais de mim que do André?

Porque é aqui em Curitiba que começou minha real intensa convivência e amizade com ele. Pois em 1999 ele veio se estabelecer ao meu lado devido ao seu já avançado diagnóstico de glaucoma. Ele ficou instalado num apartamento num bloco com as janelas frentes as minhas.

A parte dos nossos problemas iniciais de adaptação, sempre mantivemos uma relação maravilhosa, graças à sua personalidade ímpar com um humor e disposição de fazer inveja.

Não vou aqui tornar-me redundante falando de seu inegável talento artístico em múltiplos campos da arte e nem de sua herança literária e intelectual, tampouco do valor de sua obra no cenário nacional e internacional, pois isto compete aos críticos, estudiosos e o tempo vai se encarregar disso.

Gostaria somente de colocar a público o quanto foi enriquecedor para mim, conviver com ele por 15 anos, almoçando, lanchando, bebendo, passeando, conversando, lendo suas obras, sugerindo, compartilhando, rindo e chorando por todos estes anos. Participei dos processos de criação de toda a sua produção final, sugerindo, corrigindo, editando, escrevendo cartas, e-mails, e toda sorte de solicitações que um idoso quase cego exige. Tudo isso e muito mais fez parte de nossa relação, e esse legado é somente meu e hoje sinto muita falta desses tempos, mas sei que quando uma pessoa querida parte de nosso mundo, um pedaço de nós vai junto, é como se perdêssemos um órgão. Na verdade não é uma perda, e sim uma troca, fica na lembrança, na memória em nosso cérebro, em nosso corpo, em nossos atos um pouco da pessoa. Hoje eu sou Mauricio com um acréscimo “espiritual” do André, Por isso sou grato por tudo que passei e sinto que em cada gesto meu tem uma “substancia” André, em cada palavra minha tem um “tempero” André. Levo-o em cada momento de minha vida. O grande significado disso é lado humano que herdei. Humano, sensorial, emotivo, doce, amargo e vivo. Somos o conjunto de nossas experiências e relações, saibamos pois temperar isso para uma feliz permanência neste percurso. Obrigado meu pai por sua valorosa contribuição! Vida longa à sua obra!

Mauricio e o pai

 

André Carneiro e suas Oficinas de Literatura

Por Mustafá Ali Kanso

A dinâmica e o dinâmico

A exemplo do que realizou em São Paulo, André Carneiro deu início a um movimento literário em Curitiba por meio de suas Oficinas de Literatura e Cinema. Desde seu início, a dinâmica das oficinas é basicamente a mesma. Em reuniões mensais cada escritor apresenta seu trabalho, que é lido e comentado pelos demais — atuando assim como leitores beta —, com a vantagem adicional de que todos são escritores e bem sabedores dos calos ardentes dos espancadores de teclados.

Os principais objetivos da oficina são:

A busca incessante pela qualidade e pelo aperfeiçoamento na arte da escrita;

O incentivo à leitura, à escrita e ao livre pensar.

E a presença de André Carneiro representava, invariavelmente, um insight. Uma inspiração. Ele materializava a máxima de William Yeats, não tendo a mínima pretensão de encher cântaros. Apenas o singelo propósito de encadear uma chama. E que cada um levasse seu combustível.

E, assim, ele simplesmente encantava.

André premiava a todos com seu humor inteligente, com sua simpatia, com sua erudição — apresentando em cada oportunidade sua percepção do mundo da arte, discorrendo sobre gêneros e técnicas literárias — falas que foram documentadas em vídeo e que estão sendo compiladas juntamente com entrevistas, palestras e conferências proferidas por ele em todos esses anos que prodigalizou seu conhecimento e sua experiência em Curitiba.

Um Breve Histórico das Oficinas

Em 2001 se iniciaram as reuniões no campus de Curitiba da UTFPR — Universidade Tecnológica Federal do Paraná — pela iniciativa de quatro escritores que na ocasião fundaram a Confraria de Escritores de Ficção Científica, a saber: Bertoldo Schneider Jr, Clair Nery Cardoso, Silvio Xavier e Carlos Machado (que atuou como secretário até 2005).

Em 2004, por indicação do produtor Mario Mendonça, o escritor Mustafá Ali Kanso é convidado por Nery Cardoso e Carlos Machado a ingressar nas oficinas. Com a saída de Machado em 2005, para iniciar seu programa de mestrado, Mustafá Ali Kanso é convidado por André Carneiro para assumir a secretaria e, alguns anos depois, a coordenação.

Com o decorrer dos anos o grupo foi aumentando e conta hoje com a participação regular dos escritores Alba Regina Bonotto, Brahian dos Santos, Cláudia Cenzollo Peloi, Eduardo Brindizi, José Roberto de Assumpção, Liana Zilber, Luis Felipe Antunes, Luis Ronconi, Maria Inês Portugal, Mustafá Ali Kanso, Pio Stremel Neto, Silvia Cenzollo Peloi, Valério Vivekananda, Valter Cardoso e Yuri Stremel, e também dos escritores visitantes Alda Slonik, Paulo Alonso, André Sionek (editor da revista Polyteck), Marcos Migliorini, Nicole Sigaud e Wilma Rocio da Costa.

A Produção nas Oficinas

Das oficinas realizadas em Curitiba saíram textos premiados em concursos nacionais e que têm sido publicados em diversas antologias ao lado de grandes nomes da FC nacional, como por exemplo “Futuro Presente” (Record, 2009) e “Todos os Portais” (Terracota, 2009) — ambas organizadas por Nelson Oliveira, “Contos Imediatos” (Terracota, 2009) — organizada por Roberto Causo, e “Sagas IV” — lançada em 2013 pela Editora Argonautas.

Os trabalhos escritos na primeira fase da Confraria foram compilados no livro “Proibido Ler de Gravata” com lançamento em 2010 em Curitiba e sessão de autógrafos na Bienal do Livro em São Paulo.

Foi publicada, também dessa primeira fase, a coletânea de contos “A Cor da Tempestade” de Mustafá Ali Kanso, “An-Pu – O Papiro de Wadjet” de Nicole Sigaud e “Crônicas do Viajante do Tempo” de Marcos Migliorini.

Estão no prelo a segunda edição de “A Cor da Tempestade” (com prefácio de Ramiro Giroldo), a coletânea de contos “Um dia Sem Calendário” de Liana Zilber (com prefácio de André Carneiro — uma de suas últimas contribuições), também a antologia da segunda fase da Confraria batizada muito propriamente de “Estranhas Histórias de Seres Normais”, o romance “O Mesmo Sol que rompe os Céus” e a coletânea de contos “Farol de Maracaibo”, ambas de Mustafá Ali Kanso, e em destaque o romance fantástico de Eduardo Brindizi “A Queda dos Deuses”, com lançamento previsto em Curitiba para abril de 2015 pela editora CRV.

Além das produções literárias, nessa segunda fase das oficinas foram produzidos roteiros de cinema e teatro, destacando-se entre eles a produção em curta-metragem “Corpos Dóceis”, com roteiro de Ana Schuster e direção de Nelson Bucker, e a peça teatral “A Nave dos Insensatos”, de Mustafá Ali Kanso, com Jullymar Roesler e Danilo Correia e direção de Mauro Zanatta.

Um vislumbre

André Carneiro possuía um carisma e energia únicos. Participou de eventos temáticos de ficção científica e de literatura fantástica e recebeu prêmios de diversas entidades do gênero, como por exemplo o entregue no MEGACON em 2014.

Por conta desses claros objetivos de fomento ao pensamento e à arte, foi criada em Atibaia, município serrano de São Paulo [e também sua cidade natal], a “A semana André Carneiro” — evento oficial encampado pela prefeitura do município que reúne mostras literárias, de cinema, de fotografia e de outras produções artísticas realizadas nas diversas oficinas que disseminou com seu exemplo.

Mesmo limitado pela idade avançada e por um acidente vascular que lhe foi roubando paulatinamente a visão, ele participava e prestigiava, com sua presença e a de seu grupo literário, diversas atividades de fomento à literatura e à arte.

Por intermédio da professora e mestra em literatura Wilma Rocio da Costa, André Carneiro e membros de seu grupo literário foram convidados a proferir palestras para professores e alunos, desde o ensino fundamental até o ensino superior – principalmente para os cursos de Letras e Pedagogia —, incentivando a leitura e a escrita e promovendo a criação de oficinas literárias nas escolas públicas.

Mesmo agora, em sua ausência física, seu grupo literário prossegue com suas atividades de divulgação e incentivo à literatura e com suas reuniões mensais na mesma sala emprestada da UTFPR, entendendo que é por meio de uma produção literária diversificada e crescente e pela busca incessante pelo aperfeiçoamento que irão honrar a memória desse grande mestre, fazendo bom uso de seu inestimável legado e de sua prodigiosa generosidade.

 

Dimensões Criativas de André Carneiro

Esse foi o tema da palestra que aconteceu em 2014, durante a realização da 10 Semana Andre Carneiro. Nela o prof. Mustafa Ali Kanso relaciona as diferentes linguagens utilizadas pelo homenageado e destaca as diversas possibilidades de leituras, estéticas e simbólicas, de sua extensa produção artística. A palestra está na íntegra.