André artista plástico

Em 1950, com a irmã Dulce e Ruth Diem, André Carneiro promove a primeira Exposição Coletiva de Pintura em Atibaia. A organização teve apoio direto de seu amigo e pintor Aldo Bonadei, encarregado da escolha dos artistas. Na exposição: telas, desenhos, aquarelas e xilogravuras do próprio Bonadei, além de Guignard, Oswald de Andrade Filho, Lothar Charoux, Franz Weissmann, Cicero Dias, Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho, Flexor, Milton Dacosta, Anita Malfatti, Aldemir Martins, Quirino da Silva, Maria Leontina, Sergio Milliet, Walter Levy, Geraldo de Barros, Livio Abramo, João Luiz Chaves, Odeto Guersoni, Carlos Scliar, Oswaldo Goeldi, Athos Bulcão e outros. Na abertura da exposição, que marcou também a criação do Clube de Cinema, estavam presentes Aldo Bonadei, Geraldo de Barros, Lothar Charoux e João Luiz Chaves. O evento ganhou projeção nacional e, através dos correspondentes internacionais do Jornal LiterárioTentativa (Atibaia), chegou até Paris, Lisboa, Buenos Aires e outras capitais.

Foi um período de grande efervescência cultural para a pequena cidade, que contava na época com 12 mil habitantes, a ponto de um crítico de Portugal dizer que havia mais cultura em Atibaia do que em Lisboa. Anos depois, André comentaria que uma segunda exposição seria praticamente impossível. Os participantes ganharam repercussão internacional, e só o seguro das obras a tornaria inviável. Ainda jovem, André começa a desenhar e pintar, a principio de forma figurativa. Mais tarde o trabalho dos modernistas iria revolucionar sua visão. “A pintura modernista foi para mim uma grande fascinação. De Chirico, Picasso, Pollock, não importa se abstratos ou concretos, todos que revolucionaram a visão do espectador, mostrando um mundo inventado pelo artista, me influenciaram.” Logo, ele passa a desenvolver um caminho próprio e inova ao criar a “pintura dinâmica”. O fato de ser exímio cortador de vidros, prática adquirida em sua loja de materiais de construção, vai favorecer seu processo criativo. “A Pintura Dinâmica são estreitas divisões de vidro cheias de material líquido, químico, de cores variadas, além de mercúrio e outros materiais. O espectador, na posição horizontal, ‘manobra’ o quadro, obtendo milhares de efeitos e combinações plásticas.” E continua: “Recentemente fiz fotos abstratas desses efeitos, que uma editora aproveitou em capas”.

Essa maneira, absolutamente original de utilizar a pintura já apresenta sinais do que faria mais tarde com a colagem, onde, a partir de uma imagem, recria-se aleatoriamente novas combinações estéticas. A interação estabelecida entre o espectador e a obra estará presente em outras linguagens desenvolvidas pelo André, como na literatura, na escultura e na fotografia. Com esses trabalhos André é selecionado para a Bienal de São Paulo, mas não chega a participar da mostra em decorrência de um acidente que ocorreu com uma das obras. Ele conta: “Um dos quadros ‘implodiu’, pois, mesmo consultando químicos, ninguém podia calcular as reações das minhas misturas”.

Na escultura, objetos ganham nova conotação simbólica a dialogar com o espectador conforme as mudanças da luz refletida. “Pesquisei também com materiais que, solidificados, pareciam cristais. E, em Murano, até no chão, resgatei pedaços de cristais de cores variadas que fazem parte do meu trabalho. André fez poucas exposições, que incluem a “poesia colagem”, poemas entre colagens. A colagem é outra linguagem desenvolvida pelo André: “o que nunca deixei de fazer, mesmo com a pouca visão, foram minhas colagens”. “Sendo a colagem uma composição artística feita a partir da junção de imagens, coladas lado a lado ou por vezes superpostas, trata-se de um exercício, até corriqueiro, em obra aberta a múltiplas interpretações”. Na colagem André fez a junção de diferentes áreas de expressão. Suas fotos são recortadas, os pedaços recombinados e pintados ganhando nova função, como capas de livros e ilustrações. Em seu livro de contos de ficção científica “Confissões do Inexplicável” , André também produziu, como ilustração, uma colagem para os contos, onde cada imagem tenta captar o sentido do texto. A capa do livro “Fotografia Achadas, Perdidas e Construídas” (2009) reproduz uma pequena parte da fotografia “Atrás do Aquário” (2007), tirada de uma das pinturas dinâmicas do André. Para finalizar, salientamos que André Carneiro, ainda que mais reconhecido por sua obra poética, considera que todas essas investidas artísticas foram igualmente importantes e praticadas “com a mesma paixão, exigências e respeito que tenho para com minha obra poética”.